VALE TUDO,TUDO SOBRE TIM MAIA!!!!!
140 quilos de som
e transgressão
e transgressão
Uma biografia de Tim Maia mostra como o inventor do samba
soul alcançou o sucesso mesmo mergulhado numa rotina
vertiginosa de drogas e álcool. O vício o fazia faltar aos
próprios shows e lhe rendeu 300 processos judiciais
soul alcançou o sucesso mesmo mergulhado numa rotina
vertiginosa de drogas e álcool. O vício o fazia faltar aos
próprios shows e lhe rendeu 300 processos judiciais
Em matéria de histórias folclóricas sobre vida pessoal e profissional, ninguém supera Tim Maia na música brasileira. Nem mesmo João Gilberto. Conviver com Tim, ainda que por poucos minutos, era garantia de levar do encontro grandes recordações – para o bem ou para o mal. O cantor e compositor que produziu sucessos do quilate de Primavera, Azul da Cor do Mar e Sossego, morto em 1998, aos 55 anos, era um rolo compressor de irreverência, transgressão e grosseria. Implicava com a aeromoça? Chamava-a em público de aerovelha. Era vaiado por entrar no palco bêbado, drogado e sem condições de cantar? Brindava a platéia com uma saraivada de palavrões. Em contrapartida, o doidão-mor da música brasileira cultivava um senso de humor do tamanho de seu corpanzil. Suas tiradas, como "Não fumo, não cheiro e não bebo, mas às vezes minto um pouquinho", dita pela primeira vez numa entrevista a VEJA, desarmavam até seus desafetos. Em outra de suas piadas, acrescentou um rabicho a um célebre aforismo do anedotário brasileiro. "O Brasil é o único país onde prostituta tem orgasmo, cafetão tem ciúme e traficante é viciado", diz a frase original. "E pobre é de direita", emendou Tim. Além disso, ele era de uma enorme generosidade para com os amigos, os parceiros e a família.
Essa combinação de besta-fera com figura humana terna emerge com todas as tintas em Vale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia (Objetiva, 392 páginas, 49,90 reais), biografia do compositor assinada pelo escritor e produtor musical Nelson Motta, nas livrarias na semana que vem. Como escreve o autor, nem um ficcionista seria capaz de imaginar as peripécias que Tim Maia viveu e as trapalhadas em que se metia. Motta era amigo pessoal de Tim e conviveu profissionalmente com ele em diversas passagens de sua carreira. Em 1969, foi um dos primeiros a colocá-lo sob holofotes, convidando-o a fazer um dueto com Elis Regina num disco da cantora produzido por ele. Após a morte do compositor, Motta decidiu escrever sua biografia. Não imaginava que o projeto teria de ser adiado por vários anos porque, mesmo depois de morto, as confusões de Tim Maia continuaram a assombrar o mundo dos vivos.
Vários dos processos sofridos por Tim Maia decorrem daquele que era seu hábito mais notório: o de não aparecer nos próprios shows, deixando a platéia a ver navios e, às vezes, promovendo enormes tumultos. Tim agradava a todos os públicos e se apresentava tanto em casas noturnas luxuosas quanto em barracões de subúrbio. Onde quer que fosse, deixava os donos dos locais roendo as unhas e torcendo para que ele aparecesse. Certa vez, anunciado a semana inteira como a grande atração do programa Domingão do Faustão, não apareceu e a Rede Globo durante anos proibiu sua presença nos programas da emissora. Melhor sorte tinha o apresentador Chacrinha. Quando desconfiava que Tim iria dar o cano em seu programa, pedia a intervenção da mãe do compositor, de quem era amigo. Sempre funcionava. Dona Maria Imaculada, mãe de Tim Maia, era a única pessoa a quem o compositor ouvia e respeitava.
Em geral, Tim Maia faltava aos shows porque na noite anterior havia se entregado ao que chamava de "triátlon", uma maratona de uísque, cocaína e maconha, em companhia de amigos, sem hora para terminar. Freqüentemente, após um triátlon, ele até queria fazer o show da noite seguinte, mas sua voz estava inutilizada. Às vezes, Tim estragava os próprios shows, reclamando o tempo todo do técnico de som ou entrando trôpego em cena. Durante uma apresentação na boate de um hotel de São Paulo, exibia-se em estado lastimável para uma platéia de grã-finos, quando uma senhora, chocada com o espetáculo, levantou-se para ir embora. Tim não perdoou: "Já vai, dona Maria? Já vai tarde, mocréia!"
Na infância, Tim Maia já aprontava das suas, na Tijuca, Zona Norte do Rio de Janeiro, onde nasceu. Aos 12 anos, ajudava a família distribuindo pelo bairro as marmitas preparadas na pensão de seu pai – no caminho, aliviava o peso da carga comendo um pouquinho de cada marmita. Na adolescência, mergulhou no rock juntamente com os amigos Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Jorge Ben, que integravam a turma do Divino, um bar da Tijuca. Todos participavam de conjuntinhos e sonhavam em morar em Copacabana para namorar as meninas lindas que apareciam nas revistas ao lado do pessoal da bossa nova. Aos 16 anos, Tim Maia conseguiu uma passagem barata para os Estados Unidos, numa excursão de padres, e desembarcou em Nova York com 12 dólares no bolso. Nesse período, flertou com a marginalidade ao viajar por nove estados do país com um trio de amigos barras-pesadas, num carro roubado cheio de bebidas e drogas, fazendo pequenos furtos. Foi preso na Flórida e, depois, deportado para o Brasil. "Nunca mais ponha os pés aqui", foi a última frase que ouviu nos Estados Unidos.
FONTE: REVISTA VEJA por OKKY DE SOUZA/fotos OSCAR CABRAL
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