"OS NEM NEM" DO BRASIL.
***"OS NEM NEM":UMA LEGIÃO DE JOVENS QUE NÃO ESTUDA E NÃO TRABALHA.
País tem 5,3 milhões de pessoas entre 18 e 25 anos que nem sequer procuram emprego. Entre motivos, gravidez precoce e até envolvimento com o crime. Escola deve ser mais atraente, dizem analistas.
RIO — O Brasil já aprendeu que lugar de criança é na escola. Tanto que praticamente todos os pequenos de 6 a 14 anos estudam (98,2%). O país, contudo, não teve o mesmo sucesso com jovens e adolescentes. Estudo do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Uerj mostra que quase um em cada cinco jovens (19,5% dos 27,3 milhões que têm entre 18 e 25 anos) não estuda, não trabalha, nem procura emprego. São os chamados “nem nem”, representados por um contingente de 5,3 milhões de pessoas.
É um cenário longe de ter um desfecho feliz. Em dois anos, a parcela dos jovens entre 15 e 17 anos que estudam caiu de 85,2% em 2009 para 83,7% em 2011, conforme mostrou a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE. Ou seja, há outro 1,7 milhão de adolescentes dessa faixa etária longe dos bancos escolares, um contingente que pode ajudar a engrossar a geração dos “nem nem”.
Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a grande maioria desses jovens de 15 a 17 anos mora com os pais. O que surpreende é que, entre os que têm de 25 a 29 anos e não estudam nem trabalham, há quase 20% de chefes de família.
Não são poucos os motivos: da evasão escolar ao desalento, passando por gravidez precoce e envolvimento com o crime. Fazê-los não abandonar os estudos é, sem dúvida, o maior desafio da educação brasileira. A taxa de desemprego de adolescentes de 10 a 17 anos caiu de 20,1% para 19,4%, em dois anos.
— A evasão escolar mostra que a escola não está interessante o suficiente. É entre os mais pobres que encontramos as maiores proporções de excluídos, tanto dos estudos quanto do trabalho — disse Adalberto Cardoso, pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Uerj, acrescentando que mudar esse quadro exige políticas públicas que busquem, por exemplo, incentivar as famílias carentes para a manutenção dos jovens na escola e criar espaços acessíveis e gratuitos de aprendizagem profissional.
Pelos dados do Iesp, com base no Censo 2010, o número de moças que não estudam e não trabalham é quase o dobro do de rapazes: respectivamente, 3,5 milhões e 1,8 milhão. A maternidade é a grande explicação para essa distância. Para se ter ideia, 50% das jovens da geração “nem nem” têm filhos. Mas a família não é a única explicação. Há, segundo Cardoso, um forte desalento em consequência da qualificação ruim.
— A qualificação ruim dos jovens não lhes permite ingressar no mercado de trabalho, mesmo em plena atividade. Os pobres são, sem dúvida, os mais afetados — disse Cardoso, acrescentando que, na parcela mais pobre da população brasileira, com renda per capita de até R$ 77,75, quase metade dos jovens estava fora da escola e do mercado de trabalho.
Tatiane Destefano, de 23 anos, teve que optar por dois sonhos em 2009: continuar os estudos — ela estava ainda no segundo ano do ensino médio — ou ter o filho, que veio sem ser planejado. Ela optou pela maternidade e abandonou os estudos. Sem trabalhar, vive com sua mãe na Zona Norte do Rio e conta com a ajuda da avó paterna de seu filho — o pai do garoto se recusou a registrar a criança. Ela diz que não se arrepende da escolha:
— Vivi a maternidade intensamente, estou com meu filho no principal momento de sua formação, que é até os quatro anos. Claro que tenho vontade de concluir os meus estudos e trabalhar, mas espero isso para quando ele estiver mais crescido — disse.
Determinada, ela conta que nunca pensou em não ter a criança. Ela lembra que sua mãe é fundamental para ela e que um problema de saúde que atravessa agora dificultou a tentativa de retornar seus sonhos de trabalho e estudo.
**fonte: o globo
o globo.com
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