UMA DAS HISTÓRIAS DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA.


                                     A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA  




      Assim, no dia 15, um grupo de republicanos procurou o Marechal Deodoro da Fonseca, em sua casa, onde acamado, se curava de diversas enfermidades dolorosas. Os republicanos pediram ao velho Marechal que se levantasse, se fardasse e montasse a cavalo, para comandar uma tropa, que cercasse o Palácio em que se reunia, na ocasião, o Gabinete de Ministros, presidido pelo Visconde de Ouro Preto, e o derrubasse do poder, pois, diziam eles, “este governo estava ferindo seriamente o brio dos militares”. Deodoro podia não ser republicano, mas era mais militar do que monarquista. Jamais se oporia ao Imperador, a quem devia muito, mas aos “casacas”, como ele chamava aos políticos civis, era uma outra coisa.
Os militares encontravam-se ressentidos com atitudes dos Gabinetes de Ministros, urgia então fazer alguma coisa. Aceitou comandar a pequena tropa (os soldados por ele comandados e os poucos populares, que assistiram à pantomima, pensaram tratar-se de uma parada militar), cercou o Palácio, adentrou pessoalmente, teve um agressivo bate boca com o Presidente do Conselho de Ministros, o Visconde de Ouro Preto, considerou-o demitido e preso, pela força das armas. Ao descer pela escadaria do palácio e novamente montado a cavalo e reassumindo o comando, teve entretanto, um gesto, que bem esclarece que a chamada questão militar não derrubaria o Trono. Á frente da tropa e obedecendo ao cerimonial militar de saudação ao Chefe de Estado, com o quepe erguido pela mão direita acima da cabeça deu um “viva ao Imperador”. A questão militar derrubara inconstitucionalmente o governo, mas não a Monarquia.
O Visconde de Ouro Preto, mesmo preso, teve autorização de telegrafar ao Imperador, que se encontrava em Petrópolis, pedindo uma descida ao Rio, a fim de reorganizar o Governo Imperial Parlamentar, já que o Brasil não podia ficar acéfalo. Isto também nos esclarece que, da parte da maioria dos militares, que Deodoro bem representava, não havia a menor intensão de proclamar nenhuma República. Aliás dias antes o Marechal escrevera a um sobrinho, na Bahia, dizendo: “No Brasil, república é sinônimo de desgraça completa”. Portanto, contrariando os historiadores que armam uma rede conectada de idéias e de homens, desde Beckman, ao decreto nº 1 da República de 15 de Novembro de 1889, passando poe diversas conspirações até a derrubada do gabinete de Ouro Preto, se formos estudar cada uma dessas manifestações de revolta, observaremos que:
1. Cada uma delas se explica por causas próprias, contemporâneas;
2. Não estão interligadas por uma mesma linha de pensamento que aos poucos teria evoluído;
3. Isoladamente, foram insignificantes, quase merecedoras de não serem mencionadas na História, exceção da “Guerra dos Farrapos”, que além de sua longa duração, constitui uma verdadeira guerra internacional, do Império do Brasil contra potências do Prata, que já naquela época (bem antes das intervenções brasileiras contra Oribe, Rosas, Aguirre e Solano Lopes) pretendiam incorporar o Sul do Brasil a elas (velho sonho do Império Platino) uma vez que os Bentos Ribeiros, estavam, consciente ou inconscientemente traindo o Brasil ao servir aos interesses platinos
4. Essas conspirações só se destacam na História do Brasil pela vontade de historiadores republicanos, que foram descobrir no fundo do baú da História brasileira, estas quarteladas com as intenções de divorciar o povo brasileiro de uma de suas tradições mais orgânicas, naturais e autênticas que foi a Monarquia.
Assim, voltando aos fatos históricos do dia 15 de Novembro de 1889, únicos que realmente foram importantes para a instauração da República, dizíamos que Ouro Preto, mesmo preso, solicitou a presença do Imperador, que, de Petrópolis desceu calmamente para jogar água fria na fervura militar. O Brasil não podia ficar sem governo, isto era o mais importante. D. Pedro II, seguindo as normas parlamentaristas, reuniu-se com os políticos do partido majoritário, com a intenção de constituir um novo Governo. O que viria a fazer com Deodoro que agira fora da lei, ficava para depois. No momento, o importante, era formar um Governo. Durante a reunião os deputados do Partido Majoritário sugeriram o nome de Gaspar da Silveira Martins. Este nome, entretanto, logo foi alijado, pois o político gaúcho viajara ao sul, para contatos com suas bases eleitorais. Por acaso, na sala de reuniões, provavelmente como oficial ajudante, encontrava-se o Major Sílon Ribeiro; este, um autêntico republicano. Conhecedor que era de rusga seríssima que havia entre Deodoro e Silveira Martins, teve ele uma idéia, que, no seu parecer, o qual estava absolutamente correto, seria a mola propulsora da Proclamação da República.
Quando Deodoro exercera o Comando Militar do rio Grande do Sul, Silveira Martins ocupara a Presidência da Província. Tornaram-se inimigos acírrimos, não só do ponto de vista político, mas principalmente no âmbito pessoal. Embora ambos fossem casados, nas horas vagas dispunham dos favores de uma mesma dama viúva. E, tudo indica… ela dava preferência ao Silveira Martins.
Isto tudo rodopiou na cabeça do malévolo Major Sílon, que pedindo licença ao Imperador, retirou-se da sala e partiu a galope, com sua calúnia venenosa que definia-se em dois boatos maquiavélicos: “Que o Imperador nomeara Presidente do Conselho de Ministros ao Gaspar da Silveira Martins e que dera ordem de prisão ao Marechal Deodoro da Fonseca”.
Em sua casa, o velho Marechal recusara-se a assinar, peremptoriamente, ao decreto de Proclamação da República que uma dezena de republicanos já tinha redigido. Estes, não se conformando da “questão militar” não ter resultado na queda da Monarquia, não largavam a sombra do Deodoro, não saiam de sua casa, como que esperando um milagre, que mudasse a situação.
O que veio a acontecer, não foi o milagre esperado, mas sim, um artifício ardiloso, as mentiras do Major Sílon Ribeiro. Quando ele chegou à casa de Deodoro e transmitiu ao velho homem alquebrando pelas doenças, a notícia caluniadora e falsa, o militar derrotado pela vida, enfureceu-se e julgando que o Imperador fazia aquilo diretamente para feri-lo, destemperou em um grito aos líderes republicanos: “Dêem-me este papel” e assinou-o. Estava proclamada a República no Brasil. Quando a notícia verdadeira chegou, ele só pode dizer: “Tarde demais”. Para ele foi “tarde demais”. Para os brasileiros foi o entardecer da pátria.
*****FONTE:  FRANKHERLES
                      por  OTTO DE ALENCAR SÁ PERIER

Comentários

Postagens mais visitadas